Vivi de amor pelo Galo
Por: Betinho Marques
Vez ou outra amanhecemos em vida pensando na morte, escolhendo a má sorte. Acordamos sofrendo por uma vida não vivida e andamos quilômetros no carro, ou nos ônibus da vida sem entender porque vamos.
Vamos para onde? Por que? Para quem? Morro de amor pelo quê? Coloco decalques no carro em frases clichês. Vivo de curtidas e de um vender? Vender o quê? Acordamos com a “anomalia” da pressa, de “enfrentar” o trânsito. Envelhecemos nas estradas e fornecemos banco de dados para o Face App. Não temos sistema digno de saúde, mas hoje à noite, estaremos lá: eu, meu filhote, o povo e o Galo. Encontrei as respostas do meu “Wonderful World”(Mundo Maravilhoso) GALOOOOOOOOOOOOO!
Ao adentrar nessa “batalha” do atleticanismo sinto uma sinergia de existência. Ali me descubro criança, me torno um garoto com sonhos. Há uma verdade: uma criança com um filho e sinto a presença de Deus ao ver o “Galo Doido”.
Arrepio ao escutar o hino sendo entoado. As coisas parecem como uma Libertadores, mas que me não me liberta, me prende ao amor. Aqui, no meio deste povo, por mais de 105 minutos sinto-me pertencido, preenchido, revigorado e amado. Aqui me encho de esperança, me sinto herói, me realizo e idealizo. Para alguns é só mais um jogo, mas para mim é o meu desafogo, minha razão e missão.
Foi agora, transportada ao povo minha meta maior: levei este amor de “geração em geração”. Olha aqui meu filhão! Ele jamais terá raiva do Atlético, ele quer conhecer o Otero, ele lembrará de mim pelo legado de ter gritado GALO até o último suspiro, de ter levado este CAM ao fim das reticências, além do pote de ouro. Um grito de “We are the World”- (Nós somos o Mundo) – (www.youtube.com/watch?v=vXwcacayJzA) que ultrapassa a simplicidade dos caracteres G-A-L-O, mas se traduz num susto de um objeto a cair e um rápido exorcizar. É na verdade, o grito de pertencimento. De alguém que diz: se o mundo não me abraça, eu abracei o Atlético. Optei por fazer dele minha saúde, minha motivação para sorrir, meu desafogo de solidão. Escolhi viver de Atlético, por família. Escolhi morrer pelo Atlético.
Sabe, meu Deus, pode ser que em outras mãos, alguém escreva isso por mim, mas eu vivi para morrer pelo time que li na faixa do último jogo: “do berço até o caixão”. Deixei meu sorriso numa vitória, entreguei meu filho no meio deste mar alvinegro que se solidarizou com minha despedida, mas enfim, descobri porque vim:
Vim aqui para, como Senna, morrer e viver aonde me fiz mais feliz: com meu filho, com as lágrimas e sorrisos de quem me amou, e no lugar da catarse que mais me fez acreditar – No grito de Galo!
Peço ao Atlético, que leve meu filho para amar ainda mais o Galo, e assim, lembrar das belas tardes de domingo, de tantas alegrias. Peço ainda, que amparem o meu Simba e o levem para assistir ao Rei Leão. O Mufasa dele só foi ver o filho e o Galo mais alto! Hakuna Matata, meu filhote!
Morri de amor, com orgulho, pelo Galo!
Luciano Oliveira Palhares
*A “carta” acima é uma homenagem ao ilustríssimo atleticano Luciano Palhares, de 34 anos, que se despediu da vida terrena na última quarta-feira ao sofrer uma parada cardiorrespiratória ainda nas dependências do Independência, no clássico Atlético x Cruzeiro. A toda a família o nosso respeito e condolências neste momento de dor. Ficam os sorrisos e as sóbrias homenagens ao grande representante do sentimento atleticano.
Galo, som e sal é fundamental!