Torcida do Galo é maior que o Paraguai, mas seria Cerro
Por: Betinho Marques
“Muestra una mejor cara, triunfa y aplaca los ánimos”. Esta é a chamada do caderno de esportes do periódico Hoy do Paraguai, do domingo 03/03/19. Após três pelejas, o Cerro voltou a vencer deixando uma boa impressão, sobretudo, no segundo tempo. Subiu para a terceira posição com 17 pontos, cinco a menos que o rival Olímpia que tem 22. Cabe destacar, que nos últimos cinco jogos, houve o “El Superclásico” contra o “Franjeado” que ficou empatado, veja abaixo:
- General 1 x 3 Cerro
- Olímpia 2 x 2 Cerro
- Cerro 1 x 1 Club Nacional
- San Lorenzo 2 x 1 Cerro
- Cerro 2 x 0 Sportivo Luqueño
Contexto histórico
A vitória do sábado último, serviu para revigorar a confiança da apaixonada torcida do bairro Obrero (bairro do Trabalhador). O clube fundado em 1912, é o mais popular do Paraguai com leve vantagem para o Olimpia. Entender a paixão do torcedor do “El Ciclón” é se aproximar de coincidências com a paixão do atleticano. “O Cerro tem origem popular, clube de camadas mais baixas, o que gerou para os paraguaios a imagem de um clássico onde um é referido como o clube do povão e o outro como o clube do sucesso, das glórias. O Superclássico é ainda o jogo de maior risco de confronto, com histórico de muitas ocorrências policiais em razão das brigas entre as barras-bravas das duas equipes. No cotidiano, a capital Assunção “respira” Cerro Porteño e Olímpia, sendo o único jogo que para a cidade e todo o país para acompanhar o clássico.” Veja mais no link: http://sinopsedofutebol.blogspot.com/2013/07/maiores-do-paraguai.html.
A “hinchada” do Cerro nunca viu o time ganhar um campeonato internacional e acompanharam o crescimento do torcedor do Olímpia se multiplicar, principalmente após a década de 90. O rival, que em 1979 ganhou a primeira Libertadores e o Mundial, se consolidou e ganhou mais duas taças continentais em 1990 e 2002, destacando a última sobre o São Caetano. O Cerro teve como destaque a campanha da Libertadores por seis oportunidades, nas quais obteve o quarto lugar. Recentemente, obteve o posto de terceiro lugar na Copa Sul-americana de 2016. Em títulos, sim, é a segunda força do país, em mobilização o maior, o primeiro. Incomoda os rivais do Olimpia que tem tudo e os do Libertad (terceira força), mas que não entendem sua grandeza e a força do “El Ciclón” que resiste aos títulos com paixão e garra, e isso o atleticano entende bem.
Seu estádio General Pablo Rojas é conhecido como a Olla azulgrana (a panela Azul-Grená). A sua ampliação para 45.000 torcedores e modernização, teve como operários os próprios torcedores do clube. A remodelagem ocorreu entre 2015 e 2017, anteriormente a capacidade era de 32.000 espectadores. Coincidência ou não, a Arena MRV será construída em breve para 45.000 atleticanos.
Voltando ao time atual do Cerro – Forma de jogar
O time base do Cerro se porta no esquema 4-4-2 principalmente quando está sem a bola. Quando ataca alterna uma transição em 4-2-4 que pode por alguns ser entendida por um 4-6-0. Vale ressaltar a grande função de apoio dos laterais Espínola e Arzamendia. No jogo contra o Sportivo Luqueño, percebeu-se uma interação entre as laterais com os meias, principalmente entre Hernán Novick que briga para ser titular, e Arzamendia na porção esquerda do campo.
A transição é rápida com meias habilidosos e destaca-se a inteligência de Oscar Ruíz. No ataque, Diego Churín é a referência junto com o veterano Nelson Valdez (marcou o primeiro gol do último jogo e é o artilheiro da temporada com 3 gols) que disputou duas Copas e é uma arma do “El Cíclon”, um capitão no banco. O time base possível: Carrizo, Espínola(Candia), M. Cáceres, Escobar e Arzamendia; Aguillar, Villasanti(Victor Cáceres), Carrizo(Novick) e Óscar Ruíz; Diego Chúrin(Larryvey) e Julio Baez.
A princípio, ouvindo torcedores e rádios paraguaias o time do “Ciclón” não se encaixou e o comandante Fernando Jubero não encontrou a formação ideal. A equipe alterna bons e maus momentos, mas possui qualidade técnica na criação. Parte da imprensa entende que o clube porteño deve focar no campeonato paraguaio e que um resultado de não derrota em BH na Libertadores será um grande feito. A torcida cerrista é exigente e apaixonada, e o time tem bons jogadores que buscam encaixe e estabilidade. O Galo precisará neutralizar as ações no meio de campo com diminuição dos espaços, marcação forte e não deixar as linhas pensantes do meio campo saírem em bloco para suas articulações.
Foto: twitter oficial do Cerro – Confronto Cerro x Sportivo Luquenõ
Confronto Atlético x Cerro e a História
Galo e Cerro já se enfrentaram em quatro oportunidades, todas na Libertadores. O equilíbrio é absoluto, uma vitória para cada lado, dois empates e quatro gols feitos por cada equipe. No Mineirão foram dois empates. Abaixo a lista dos jogos:
- Atlético 1 x 1 Cerro Porteño no dia 1º de março de 1972 – Mineirão
- Cerro Porteño 1 x 0 Atlético 19 de março de 1972 – Defensores del Chaco
- Cerro Porteño 0 x 1 Atlético 21 de julho de 1981 – Defensores del Chaco
- Atlético 2 x 2 Cerro Porteño no dia 31 de julho de 1981 – Mineirão
O Paraguai tem cerca de 7 milhões de habitantes e não possui saída direta para o Oceano. Sua economia ainda é baseada no setor primário(agricultura). Porém, o desenvolvimento do setor imobiliário e da indústria a partir de 2009 tem mudado este cenário. A Guerra do Paraguai no século XIX (1864 -1870), devastou o sonho expansionista do vizinho que foi parado pela aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai. Já no século XX, para resguardar o território, desta vez, o Paraguai venceu a guerra contra a Bolívia(Guerra do Chaco) que desejava a região semiárida para fins de avanço territorial e possível prospecção de petróleo do Chaco (1932-1935), daí o nome de um estádio do país, os Defensores del Chaco.
A fama de país do contrabando está mudando. O “Plano Nacional de Desenvolvimento para o período 2014-2030”, organizado pelo governo de Horacio Cartes (último presidente), enfocou a redução da pobreza reforçando o desenvolvimento social e o crescimento global, fatores que conduziram o país a este posicionamento no cenário internacional. O país cresce 4% ao ano e supera hoje o Brasil e a Argentina na confiança dos investidores internacionais. Segundo agências de qualificação de risco, o Paraguai deve atingir o grau de investimento entre 2018 e 2019. O país soube escapar da armadilha de depender exclusivamente da exportação de commodities (soja e carne, entre outras) e, nos últimos anos, reduziu os níveis de pobreza, aumentou a prosperidade e se tornou um líder regional.
A torcida do Atlético é imensa e estima ter cerca de 8 milhões de torcedores, a população do Paraguai é por volta de 7 milhões de habitantes. Juntando Olímpia e Cerro no twitter, eles chegam a cerca de 700 mil engajados, o Galo tem mais de 2 milhões de apaixonados seguidores na mesma rede social.
Cerrista no Brasil seria Galo, a Massa no Paraguai seria “La mitad más uno” – Semelhanças
Guardadas as proporções de tamanho de país, número de torcedores e conquistas de cada um, Cerro e Galo possuem características históricas imponentes. O time do bairro dos Obreros (trabalhadores) teve desde a sua fundação o apoio feminino, dos humildes, dos trabalhadores. A fundação se deu na casa da Dona Susana Nunes, mãe de quatro jogadores. O Galo, por sua vez, teve Dona Alice Neves que não era mãe dos jogadores, mas que adotou os garotos sonhadores e criou a primeira torcida feminina de futebol do Brasil.
Todo o contexto elucida o que é o Cerro. O clube tem a alcunha de “El Cíclon” por em 1918, após estar perdendo por 2×0 a final do Campeonato Paraguaio contra o Nacional, virar o jogo num “vendaval” para 4×2 nos últimos sete minutos da peleja. O Atlético, ao longo de uma sequência digna de filmes inspiradores na Libertadores de 2013 e Copa do Brasil de 2014, consolidou o time do “Eu acredito”, o time do Impossível. Atleticanos e Cerristas não são hipócritas. Gostam de ganhar campeonatos e levantar taças. Há, porém, um detalhe primordial: as duas grandes torcidas ou “hinchadas” são muito mais apaixonadas pelas suas cores, pela sua paixão.
Há menos de dois anos, os paraguaios inauguraram a ampliação da nova capacidade do Estádio para 45.000 torcedores, que contou com trabalho e apoio dos torcedores. Já o Atlético está em vias de iniciar a construção da sua casa que terá 45.000 e conta com o apoio da Massa. Conhecendo um pouco de ideologia de futebol, não teria dúvidas de que o atleticano se nascesse no Paraguai seria Cerrista e o torcedor do “El Cíclon” no Brasil certamente cantaria de Galo.
Atleticanos e Cerristas não são hipócritas. Gostam de ganhar campeonatos e levantar taças. Há, porém, um detalhe primordial: as duas grandes torcidas ou “hinchadas” são muito mais apaixonadas pelas suas cores, pela sua paixão.
É história, é cultura da América do Sul, é Galo na Libertadores 2019!
Galo, som, sol e sal é fundamental!