Coluna Preto no Branco: nem sempre querer é poder
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Dia sim, o outro também e o Atlético continua na mesma barafunda. Os dias passam, entra semana, sai semana e o panorama atleticano não muda para melhor. Ao contrário, as coisas pioram e o que era difícil e bastante ruim se torna mais e mais complicado, insustentável e extremamente mais preocupante.
Sobre os dias atuais desse Galo esquizofrênico e maluco, o atleticano Marcos Boaventura nos ensina que “após a coletiva ao fim do jogo contra o Avaí, ficou claro para ele que a SAF está gerando insegurança e incerteza no grupo. Se o próprio Cuca não sabe se os futuros donos da SAF o irão querer à frente do elenco atleticano na próxima temporada, o que se pode dizer dos jogadores? Os funcionários precisam estar atualizados em relação às mudanças dentro de uma empresa e entender porque estas mudanças estão acontecendo.” E é óbvio que, assim como em qualquer organização, nos clubes de futebol e, no Atlético em particular, não é e nem pode ser diferente.
“O que eu ganho com isso?” é uma das perguntas mais comuns quando há um período de transição numa empresa, nos lembra o grande Marcão. E continua: “se você não tem um bom nível de comunicação com o funcionário e não consegue administrar esse ‘o que eu ganho com isso?’. A produtividade dos funcionários fatalmente irá cair, porque eles não conseguirão se comprometer com mudanças, já que a comunicação está sendo falha e eles pouco ou nada saberão a respeito do que vai ou não mudar”. Mais óbvio impossível.
Boaventura ainda nos alerta que se existem desafetos com o treinador e planos de reformulação de elenco com a dispensa de atletas já considerados velhos, sem bom mercado, e daqueles outros que por qualquer razão estariam fora dos planos do treinador, essa perspectiva por si só gera incertezas. Isso sem falar em um ou outro atleta que, mesmo não estando em nenhuma destas barcas, até gostaria de sair porque não é como os jogadores do passado que ficavam 4, 5, 10 anos em um mesmo clube e gostaria de rodar, mas preso ao clube em razão de seu contrato e insatisfeito certamente não conseguiria render aquilo que dele se espera em razão de seu conhecido potencial.
E o Marcão tem razão: Cuca pode dar quantos tapas na mesa da coletiva que ele quiser e dizer que este time vai jogar de qualquer jeito com ele. Ele pode dizer e até prometer, mas não é assim que a coisa acontece na prática. Existem coisas que extrapolam a ele, ao querer dele, ao poder dele. Aliás, ele também é vítima desse processo de incerteza.
Nem sempre querer é poder. Essa máxima vale para os jogadores, para qualquer treinador e para a torcida. Vale para qualquer ser humano. É preciso colocar um contraponto nessa narrativa de “jogadores acomodados”. Nossa produtividade não é estática. Ela flui e reflui dependendo da situação, da qualidade do ambiente, das habilidades de gerenciamento de grupo e do tempo para que o trabalho flua e dê resultados e, claro, do estado físico e emocional dos envolvidos no processo.
A energia mental e a motivação, interna e externa, também podem influenciar a produtividade dos funcionários de uma empresa para o bem ou para o mal. Portanto, diante do que sabe-se lá está ocorrendo dentro dos muros atleticanos, não é surpresa ver a produtividade dos jogadores atleticanos oscilar da forma que vem acontecendo. E aí o jogador pensa… “quem terá os meus direitos federativos em 2023? Quem são estes gringos que estariam comprando o clube? Posso perder alguma coisa com isso?” Acomodação após vitórias existe em qualquer lugar, mas essa explicação de jogadores acomodados, considerando todo esse cenário, é algo bastante simplista.
Qualquer mudança seja planejada ou não, seja bem conduzida ou não, afeta a produtividade dos funcionários de uma empresa, vez que implica em aprendizados, mudança de hábitos, de paradigmas, de foco, até mesmo de ambiente, etc.. E várias são as perguntas que devem ser feitas em relação ao que está ocorrendo no Atlético (SAF, continuidade ou não do treinador, limpa e reformulação do elenco, possíveis cizânias entre jogadores e treinador, atrasos de pagamentos de direitos e premiações, dívidas do clube para com agentes e empresários dos atletas, etc.): as mudanças estão vindo no tempo certo? Estão sendo bem planejadas? De que forma elas estão sendo introduzidas? É possível garantir um ano de 2023 brilhante? Se positivo, por que e como?
Marcão nos ensina, ainda, que existem três tipos de conflitos de vestiário:
- a) conflito por desempenho individual – chamam a isto de “ombro frio”, onde falta solidariedade (ou ele é tratado com indiferença pelos demais) pelo fato do atleta passar por um momento ruim. É, talvez, o mais fácil de resolver porque é individualizado. O treinador, por exemplo, pode pedir aos jogadores mais experientes para ajudar aos mais jovens.
- b) conflito por desempenho coletivo – os jogadores começam a se atacar uns aos outros de forma muito destrutiva, afetando todo o desempenho da equipe.
- c) Conflito por ego – quando jogadores se colocam uns contra os outros, numa troca de acusações terrível. Competitividade patológica e a energia gasta é tão grande que parece exaurir todo o time. Somente com algum tipo de mediação será possível para aparar as arestas.
E, como problema atrai problema, crise gera crise, é possível que essas três situações possam ocorrer dentro de um clube simultaneamente, o que pode ser chamado de crise de “colapso de desempenho”. Não se pode afirmar que no Atlético estes conflitos estejam ocorrendo isolada ou em conjunto. O que se percebe a distancia e o futebol dentro de campo nos induz a pensar é que a gestão do futebol atleticano nesse ano de 2022 tem sido desastrosa, muito além da responsabilidade, do querer, dos limites de Rodrigo Caetano e muito acima do poder do diretor. É algo coletivo, é algo estrutural.
E, claro, muito além do que poderia o Turco fazer e pode Cuca solucionar. Isso, porém, não quer dizer que Mohamed não tenha errado e feito escolhas equivocadas e que o técnico campeão brasileiro de 2021 não esteja abusando do direito de errar e de escolher mal.
Por outro lado e, não sem razão, o torcedor se sente impotente e não sabe como ajudar o Atlético a sair deste imbróglio que o próprio clube criou e vem alimentando. Aos poucos, o atleticano começa a perceber que ameaçar este ou aquele jogador, inclusive constrangendo seus familiares e promovendo estas covardes e cruéis caças às bruxas de nada adianta.
Assim, se nem sempre querer é poder, a saída está em um trabalho parcimonioso, planejado, harmônico, plural, que envolva todas as áreas do clube, a partir de seu comando central que deve dar o norte, uniformizar o discurso, resgatar a palavra do clube, interna e externamente, devolvendo ao time, ao treinador, aos funcionários do futebol e à torcida a confiança, a autoestima, a alegria e o estímulo, hoje fortemente estremecidos, possibilitando a todos a voltarem a jogar juntos proativamente.
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal FalaGalo.