Velho, “poucos” jogos em 2021 e um dos melhores defensores de sua geração
Por: Hugo Fralodeo
Godín estreou pelo Atlético com gol, excelente aproveitamento nos passes e sem qualquer susto. Partida tranquila, segura e que não chamaria atenção, caso não tivesse marcado logo em seus primeiros 45 minutos vestindo preto e branco. O uruguaio chegou com certa desconfiança, por conta de sua idade e de um ano conturbado atuando pelo Cagliari, o que condicionou a maioria das pessoas que vieram a ter o pensamento de que o zagueiro estaria em declínio físico. Perdeu apenas 8 jogos por lesão em 2021. A estreia de gala de Godín não garante que a contratação deu certo, mas, a própria forma como ele atuou e tudo que representa ter um zagueiro de 3 Copas do Mundo e duas finais de Champions League liderando sua defesa, indicam que o Atlético está preparado e armado para dar a Godín a possibilidade de, quase sempre, fazer partidas tranquilas e “discretas”.
Um zagueiro experiente vive de posicionamento. Godín joga com o cérebro antes de usar as pernas e o mesmo vale para Réver. A velocidade já é coisa do passado, portanto, o zagueiro técnico tem que ter a ‘clarividência’ de um meia: ele precisa se antecipar, saber onde a bola vai estar, interceptar e rebater mais do que roubar, fazer com que a bola sempre esteja à sua frente e isso só é adquirido com o tempo.
Um zagueiro que deixa a defesa segura, tem a segurança de sua defesa. Nathan Silva (que deve jogar a maior parte do tempo com o uruguaio) e Vitor Mendes, que são zagueiros mais rápidos, sabem que deverão, em via de regra, correr mais do que os companheiros. Seus movimentos serão diferentes dos mais técnicos, assim como os dos demais companheiros de defesa.
Já é antiquado falar em ‘defesa’ e ‘sistema defensivo’, há quem dívida o jogo em ‘fases’, defensiva e ofensiva, sendo que os 11 defendem e atacam o tempo todo. A defesa começa imediatamente após a perda da bola, fazendo do último atacante o primeiro defensor e o ataque começa a partir da saída limpa de bola, tornando o goleiro o primeiro armador.
Há, e com certa razão, o receio por saber que o time, na maior parte do tempo, se posicionará com as linhas mais altas em relação ao ano passado. Mas, não só pela técnica do uruguaio e também do capitão Réver, além do clichê que diz que “os mais experientes conhecem os atalhos do campo”, Turco sabe muito bem o que fazer para evitar a exposição dos defensores. Já que a ordem é pressionar o adversário, caso haja uma escapada, quem estiver próximo da jogada, imediatamente deve cercar o jogador da posse para, pelo menos, diminuir a velocidade do eventual contragolpe, evitando situações onde os zagueiros estejam no mano a mano. Quando um zagueiro lento precisa apostar corrida com um atacante veloz, significa que já deu merd*.
À primeira vista, este texto parece uma junção de ideias soltas, mas a construção dessa forma é proposital. O futebol do Atlético é coletivo, apesar de sabermos muito bem quem deve decidir os jogos. O modelo, esquema e formação, levam aos processos e mecanismos que deságuam nas vitórias e nas conquistas. Cada passe, cada interceptação, cada finalização foram fruto do trabalho coletivo de facilitar o jogo até a bola chegar dentro do gol. Se trata de uma colagem de mecanismos que definem os jogos. Godin deve ter seu trabalho facilitado e Turco não exigirá o que ele não pode entregar, da mesma forma que o próprio fará de tudo para que seu trabalho defensivo seja cada vez mais simplificado. Se Godín entrar mudo e sair caldo da maioria dos jogos, significa que o Atlético está dando certo.