Echaporã, experiência ruim também é experiência. Agora, depende de você aprender com ela
Por: Hugo Fralodeo
Conheço um cara que começou a jogar futebol no campo de terra do time de seu bairro em BH, com 9 para 10 anos. Ele nunca sonhou ser jogador, sequer compreendia tamanho compromisso que seus colegas tinham com o que, para ele, era simplesmente brincar de bola. Como gostava de Marques e Guilherme, jogava no ataque pra meter gol. Não entendia que os colegas não passavam a bola porque ele estava sempre na banheira. Até aquele momento, o garoto não fazia ideia do que era impedimento.
Ele até tinha suas qualidades: chute forte, visão de jogo, passe refinado, mas não tinha nenhum senso de colocação. Pra participar mais da “brincadeira”, por conta própria recuou pra trás do centroavante. Depois, com orientação do professor, foi o meia de um losango, passou pela ‘segunda volancia’ e se encontrou como o antigo meia direita, o camisa 8. Em menos de um ano, o menino que foi jogar bola pelo incentivo da avó, passou a se destacar entre os mais velhos, virando o ‘dono do time’.
Quando foi convidado a trabalhar em categoria de base, seu professor levou três garotos do bairro, o queridinho entre eles. Craque da várzea, especialista em cobranças de falta e pênalti, quando foi competir com garotos mais preparados, o menino passou a esquentar o banco, treinava e treinava, mas ganhava pouquíssimas chances. Não se conformava com sua nova condição. Sim, um moleque de 12 anos com crise de estrelismo. Ele resolveu ‘confrontar’ o professor e ouviu de volta: “você é um dos meus grandes talentos, mas não é o único. Quer jogar? Quer bater falta? Quer bater pênalti? Vou te colocar…”.
Em uma sequência de 3 jogos como titular, 3 empates, nenhum gol, nenhum passe. No quarto jogo, uma falta, a chance para a vitória, o professor não deixou ele bater e, em um lance seguinte, o gol da vitoria do adversário.
“Professor, eu faria o gol! A falta era pra mim, porr*! Eu bato dali pelo menos 20 vezes nos treinos e meto 15 gols. O cara que bateu cobra pior que eu!Tomar no c*…, caral*”.
Compreendendo a frustração, o professor deixou o menino esbravejar, mostrar seu brio, sentir a derrota. No jogo seguinte, ele era mais uma vez titular e teve a chance de bater sua tão esperada falta.
Bola na lua.
A maré do time virou, a molecada ganhou depois de 4 jogos e o ‘queridinho’ pediu desculpas à turma e ouviu do professor:
“Lá no nosso campo, você conhece a grama, a bola, tá acostumado até com a força do vento, tem as referências e conhece até os goleiros. Não tem pressão, não tem adversário, não tem mais nada além de você, a bola e o gol.”
Por outras questões, esse menino, que hoje já é um homem – mas que tem um moleque morando em seu coração -, não se tornou jogador, a vida o levou para outros caminhos. Com o passar do tempo, ele percebeu, por essas e outras, que ele não deveria tentar ser melhor do que ninguém, mas buscar ser melhor que ele mesmo todos os dias. Entendeu que o egoísmo não leva ninguém a nada, que “perder” junto é muito melhor do que “ganhar” sozinho e que algumas vezes é preciso perder pra se ganhar. Mas a maior lição que ele aprendeu a partir deste episódio, eu gostaria de compartilhar com vocês e o cria do Galo:
Echaporã, mostrar personalidade é muito bom, falhar faz parte da vida e superar é apenas um processo natural, não importa o tamanho do erro. Não cabe a mim lhe tachar arrogante, fominha, queima-lo, nem condenar quem agora te critica, o que você precisa entender é que experiência é experiência, ainda que seja ruim, depende de você o que fazer com isso. Dentre tudo mais que é, vida é uma coleção de momentos e experiências. Haverão outros jogos, outros pênaltis, outros momentos, outros erros, outras escolhas ruins, isso é inevitável. A experiência não evitará que os goleiros adversários incorporem o Neuer contra o Galo, mas, com toda certeza, lhe trará a tranquilidade necessária para absorver as críticas, até as mais desproporcionais e é ela que lhe dará a capacidade de crescer.