Continua cedo, mas Turco indica estar facilitando seu trabalho
Por Hugo Fralodeo
Na última prancheta, eu disse que era cedo até para primeiras impressões. E continua cedo. Mas já “vai se criando todo um clima, amigo!”. O Atlético enfrentou – por “enfrentou”, entenda “jogou contra” – o terceiro melhor time do estado, time esse muito bem organizado e com vontade de competir. Com 12 dias de preparação, o nível mediano – físico e técnico – do campeão nacional, é suficiente para dominar um time de série B. Se esse jogo fosse 45 dias para trás ou 45 para frente, falaríamos de uma assombrosa goleada. Vimos os inúmeros lances em que faltaram pernas para construir ou finalizar melhor algumas jogadas.
Como deixou bem claro, Turco partiu do que já existia e vai adicionando suas ideias. A única coisa que o argentino não negocia é que o time seja sempre protagonista. Na sexta, Igor Rabello revelou que os jogadores e comissão conversam bastante e as informações são de que Tony troca muitas ideais com quem já estava aqui. O zagueiro também chegou a falar que eles voltaram a praticar algumas coisas que treinavam no passado, sem mencionar Sampaoli. Mas entendemos o recado.
Como Cuca, Turco deu um prazo para seu time chegar a um nível mais alto de competição, entretanto, diferente de seu predecessor, o prazo pedido se refere ao nível físico do elenco. Na parte tática, Turco tem três grandes vantagens em relação a Cuca: um elenco campeão e mais leve, o tempo de preparação e, além de ter em seu próprio repertório práticas de treino já comuns aos jogadores, está mantida a comissão que os ajudou a treinar por um ano inteiro. O grande problema de Cuca nos primeiros dois meses de trabalho, foi a grande ruptura nos mecanismos de treino dos atletas. Se um jogador está acostumado a treinar x para executar x nos jogos, quando ele precisa treinar y e executar y, ele vai sentir, não importa qual jogador seja. O futebol de hoje depende muito da memória muscular e da consciência tática. Portanto, sem romper a sequência do atleta, Turco está encurtando seu caminho, pois seus jogadores irão executar movimentos muito parecidos com os quais executavam na época de seu compatriota e de Cuca, a mudança entra no lugar em campo e o momento em que Turco planeja que os jogadores executem esses movimentos.
O comandante garante que não será guardada uma formação, mas ele indica que deverá partir do 4-3-3 para todas as suas variações possíveis e quase sempre mantendo 3 atacantes em campo, independente de suas funções. Ele também disse que vai aproveitar a saída rápida do time, o que aconteceu no sábado. O time vai continuar atraindo os adversários para acelerar depois de superar a primeira marcação. Uma sútil diferença está na formação do meio-campo. Para Turco, uma trinca traz mais mobilidade para se dominar o setor, o que beneficia todos os meio-campistas disponíveis e potencializa seu jogo. Jair, Calebe e Nacho variaram suas funções de forma fluida, fazendo a trinca se espalhar pelo campo, quase que se multiplicando, como sempre fez Zaracho. Se o time mantém a saída rápida e um meio-campo móvel, ele avança, constrói e finaliza as jogadas com mais jogadores, porque a compactação se torna mais fácil. Em várias jogadas, apenas os zagueiros ficavam na base, transformando todos os outros oito jogadores em atacantes. Mais gente no ataque, mais gente na área para finalizar e quebrar defesas fechadas. O campo é aberto pelos laterais e pelos pontas, criando confusão na marcação, que não sabe quem acompanhar no fundo e quem vai centralizar. E bem sabemos, um ataque bem feito, facilita o trabalho defensivo, mesmo que a bola seja pedida. Turco não abre mão do protagonismo e um de seus pilares é a pressão pela bola e, caso ela não seja recuperada no campo de ataque, os jogadores foram orientados a cercar o adversário, para evitar situações de mano a mano contra nossos defensores. Um time mais próximo também facilita isso.
Tudo isso foi visto na vitória no Independência. Ainda que faltasse sincronia de movimentos em alguns momentos, mais por conta das pernas pesadas do que pelo cérebro, voltamos a ver um Atlético coletivo, onde todos os jogadores vão bem, apesar de alguns erros ocasionados por essa falta de preparo e ritmo e aqui é explicada a escalação dos ‘titulares’, o Atlético enxerga a primeira fase do Mineiro como pré-temporada, enquanto os jogadores vão se recondicionando, eles vão reincorporando a parte tática nos jogos e os reforços vão se adaptando aos companheiros e às novas práticas. A previsão de Turco é para o dia 20, na disputa da Supercopa e, devido a sua inteligência e por ser um técnico adaptável, que põe seus jogadores a frente de um sistema, ele deve entregar um time pronto a essa altura, porque o modelo de 2022 será jogar como Atlético. Pelo menos é o que seus primeiros movimentos indicam.