Sampaoli deixa o Atlético, mas devemos observar e valorizar o que ele deixa no Galo
Por: Hugo Fralodeo
Jorge Sampaoli deixa o Atlético depois de praticamente um ano, tendo comandado o time em 45 jogos (26V – 10D – 9E – 76GP – 49GC), aproveitamento de 64,4%, um terceiro lugar no Brasileirão e o 45º título do Atlético no campeonato mineiro. Entre sua estreia contra o Villa Nova no Alçapão do Bonfim, naquele jogo do meme da cadeira de bar que precedeu a paralização pela pandemia, até o último compromisso, onde esteve presente nos camarotes do Mineirão contra o Palmeiras, tivemos partidas marcantes, positiva e também negativamente, vitórias empolgantes, empates frustrantes e derrotas duras. Há quem imagine que Sampaoli sai sem deixar e levar nada, mas, ao observarmos atentamente, não fica difícil compreender o que fica de Sampaoli na Cidade do Galo. Sampaoli deixa uma ideia, um grupo, acertos e erros, mas, principalmente, a oportunidade para uma reflexão.
Dentro de campo, é inegável que Sampaoli transformou um time pobre em um grupo que disputou o título boa parte do Brasileirão e cumpriu o primeiro objetivo de recolocar o Atlético na fase de grupos da Libertadores. Claro, a partir do alto investimento, reconstruiu um time com reforços e dispensas, o que o possibilitou implantar seu modelo de jogo.
Taticamente, apesar de algumas pontuações e ressalvas, Sampaoli foi importante na evolução de jogadores, como Guga, que se tornou um lateral mais completo, capaz de atuar em diversas funções, fazendo a saída de bola, internamente logo à frente dos zagueiros e ao lado do volante, ajudando no início da construção; E Keno, que se transformou em um jogador mais decisivo, sendo capaz de explorar sua maior qualidade, o drible em 1 contra 1, e se tornar a maior fonte de criatividade do time. Keno nunca foi tão artilheiro em sua carreira, liderou o quesito no Atlético na temporada com 11 gols, fez, em média, 1 gol a cada 3 jogos e, somando suas 11 assistências, participa de um gol a cada dois jogos. Portanto, Sampaoli deixa jogadores mais versáteis, mais inteligentes taticamente, que podem desempenhar mais de uma função com segurança e serem mais úteis ao elenco.
Com o exemplo de Hyoran, fica evidenciado que o treinador argentino deixa a ideia de que o trabalho sempre vai ser o melhor caminho para o sucesso. De um dos jogadores mais contestados pela torcida, com seu trabalho, perseverança, vontade e personalidade, e a confiança do treinador, o meia foi capaz de ser, em determinado momento, o jogador mais importante do Atlético no campeonato, sendo preponderante para a conquista de pontos que se fizeram cruciais ao fim da competição. A prova que é preciso lutar para vencer.
Ficam também erros, mas, o peso dos erros na balança do trabalho, deve ser medido proporcionalmente aos acertos. Sampaoli não sai sem deixar um legado. E aqui cabe a reflexão. O erro não pode determinar um caminho e não precisa necessariamente ser definitivo, a partir do momento em que tudo que foi feito de positivo é esquecido e ignorado para se focar apenas no que é negativo, entramos num caminho sem volta, onde fica a sensação de que nem a perfeição seria capaz de devolver a confiança de que o trabalho poderia chegar aos objetivos e dar frutos. O trabalho de Sampaoli foi efêmero, fugaz e, apesar de interrompido em meio a um projeto, não parece que termina sem uma conclusão. Sampaoli passou por tudo, o êxtase da chegada, trazendo a esperança de dias melhores quando tudo era terra arrasada; O início de trabalho que impressionava pelos relatos de seus comandados e que animou, logo mostrando que havia uma ideia sendo implementada; O ápice, que veio muito cedo e colocou um time antes fadado ao fracasso em condições de brigar por algo maior; A oscilação que gerou desconfiança de que o trabalho não atenderia as expectativas; Até chegar no desgaste, num momento onde parecia que a relação se tornaria insustentável e que o rompimento do acordo seria o melhor para todas as partes.
O trabalho de Jorge Sampaoli no Atlético foi completo, de início, meio e fim. Sim, fica a frustração, poderia ter ido mais longe, mas fica também um pouco dele aqui. Fica ao menos a chance de todos nós, torcedores, jogadores, diretoria e a próxima comissão técnica, levarmos essa dura temporada de 2020 como aprendizado. Não pulamos de 2019 para 2021, a temporada que se encerra com o fim da passagem de Sampaoli será fundamental para o futuro do Atlético forte, que já começa agora.