Mais aproveitado na seleção, o “problema” de Alan Franco no Atlético é tático
Por Hugo Fralodeo
Imprescindível na temporada 2020, constantemente convocado pela seleção equatoriana – que tem boas chances de ir a Copa – reconhecidamente muito bom jogador e querido pela torcida, Alan Franco tem mais minutos pela seleção do que pelo Atlético. Por quê? Cuca pode até ter suas preferências por outros jogadores no setor de Franco, mas começa pela tática os motivos que levam o equatoriano a ser, quase sempre, o gringo escolhido para ficar de fora da relação para os jogos.
Tudo começa na forma com que Cuca alterou os mecanismos de ataque e defesa do time e o espaço no campo onde determinados jogadores atuam. Além disso, deu equilíbrio na hora de definir se pressiona após a perda ou se recompõe rapidamente. Mas, principalmente, seu maior mérito foi, para que tudo isso funcione, encaixar seu esquema e suas variações. No desenho, tudo parte do 4-1-1-2-2. No meio, setor de Franco, Allan, claro, tem incumbido a saída, proteção à defesa e a cobertura. Jair flutua e usa o físico para avançar e recompor. A dupla de argentinos tem liberdade total para passear pelo campo, mas de formas diferentes. Zaracho define a marcação, se não está desmarcado, está marcando; fecha o lado, dá passagem ao lateral, também pode chegar ao fundo, ajuda na circulação, infiltra, facilita o jogo para os companheiros e também participa das chances mais claras. Nacho é literalmente o cérebro. Lê o momento do jogo, vai onde é preciso, seja na saída, na criação, no lado, buscando assistências, invadindo a área, ou na finalização. E é aqui que entra o grande fator que afasta Franco do time.
Franco é um meio-campista especialista na pressão no campo ofensivo e boa chegada no apoio. Teve seu período de adaptação, cresceu na reta final do mineiro de 2020, caiu nas graças da torcida, sofreu com a COVID, demorou para recuperar a parte física, oscilou e encerrou bem a temporada com 3 gols e uma assistência em 33 jogos. Na gestão Cuca, foi 19 vezes relacionado, jogando em 13 jogos, 3 como titular, atuou apenas uma vez os 90 minutos e totaliza 352 minutos, sem gols e assistências. No mesmo período, foi convocado para 4 datas FIFA e a Copa América, sendo 14 vezes relacionado, atuando em 10 jogos, 3 como titular, totalizando 473 minutos, também sem números decisivos. Em comparação com seus companheiros de meio-campo no Atlético, só tem mais tempo de jogo com Cuca do que Calebe, perdendo para as outras 8 opções Atleticanas. Mas, Hugão, qual o motivo desses números?!
Achou que te enrolei, certo? Achou errado. Já está respondido…. Franco, apesar de errar muito pouco, não tem a capacidade do primeiro passe de Allan e Jair, como também não tem características de cobertura e recuperação. Lembre-se, seus melhores momentos foram no time que pressionava os adversários e roubava a bola no campo ofensivo, coisa que o Atlético faz um pouco menos e de forma diferente agora. Por isso, ele perde a disputa em relação aos titulares e até a Tchê Tchê, que, apesar de não entregar o mesmo que a dupla mais constante, tem melhor recuperação e não deixa muito a desejar no passe. Franco não entrega o mesmo atuando como um dos “volantes”, pois não inicia tão bem a construção e não “corre para trás”, e não concorre com o meia Nacho. Zaracho, que seria o jogador com características mais próximas de Franco, entrega a mesma pressão e apoio, sendo mais forte na infiltração, mais técnico, mais rápido, mais decisivo e mais propenso a ajudar na circulação da bola e na recuperação, além das outras valências que traz ao time. Tudo que Franco pode entregar, o argentino tem entregado melhor e em mais volume.
Pela forma que o Galo se encantrou na temporada e suas principais características, fica difícil que Franco se encaixe em um espaço no campo e consiga um lugar no time. Perdendo na comparação até com Dylan, que fica a frente por ter características mais compatíveis com o time atual. Então, os minutos vão rareando, as oportunidades vão diminuindo. Nem sempre é culpa do treinador, muito menos do jogador. Quantas vezes vimos bons jogadores não dando certo em bons times? A questão é que um treinador precisa privilegiar seu time e também seus jogadores especiais. Hulk, Diego Costa e Nacho, por exemplo, precisam dos outros para que tenham a chance de decidir e brilhar. E a forma como o Atlético joga atualmente, dificulta bastante a utilização de Franco sem que alguns dos mecanismos que funcionam muito bem sejam desarmados.
Franco tem todo o direito de querer jogar, como Cuca de ter suas preferências e sempre optar por não ferir as características de seu time, como também tem a torcida em querer saber porquê um jogador talentoso e querido perde espaço de forma abrupta. Muitas vezes é apenas questão de encaixe.