Coluna do Betinho: Éverson e os morangos suculentos
Foto: Pedro Souza / Flickr Atlético
Por: Betinho Marques / @rmarques13
Certamente, no porão da razão há motivos para não dar o braço a torcer, há motivos para vencer o debate no WhatsApp e até de esquecer quem se é.
Assim virou mais um ano, mais amigos perdidos, mais afastamento por brigarmos de forma paradoxal por querer ter o poder de fala e sermos “democratas”. No momento da defesa de um pênalti, na hora da classificação, houve quem quisesse argumentar em vez de saborear os morangos suculentos da vitória.
Talvez, muita gente tenha esquecido da luta dos seus errantes pais que, vez ou outra, pecam em opiniões modernas, mas vestiram e amaram até que pudéssemos “vestir” nossas próprias opiniões.
Formamos pessoas mais inflexíveis que os vergalhões das obras, e cobramos e cobramos. No trabalho, estamos dispersos, atendemos clientes no WhatsApp, imprimimos três cópias para uma prestar, mandamos produtos a clientes trocados, “mas somos a excelência plena” e levantamos da mesa com peito estufado das nossas certezas. “Não dá pra conversar”. Quase sempre com os “canudos” e a própria formação de caráter baseada em quem, muitas vezes, pouco teve chance, mas deu a chance. Esquecemos, não exercemos o razoável, apenas queremos gritar nossa parte do prisma.
Enfim, colocamos um braço de jacaré no goleiro, fazemos uma figurinha, entramos na rede social do atleta e da esposa e xingamos, somos ferozes. Porém, somos bonzinhos na entrevista de emprego e nas mesas de bar. “Não, sô, aquilo ali era na Internet, coisa pra desabafar, não sou assim. Fiz até outro perfil”. Não damos perdão, mas fazemos outro perfil para ter a segunda chance que raramente concedemos.
Li na noite passada que Deus tem mais coisa do que se preocupar com Éverson e suas conquistas. Provavelmente, o bom seguidor tenha mesmo razão, contudo, na particular fé de cada um há uma caixa que não se pode adentrar.
Poxa! Eu pensei que esta crônica falava de Galo, me enganei. Sim, talvez, mas o Galo é uma filosofia de vida que está conectada ao mundo. Foi por isso, foi pelo preto e branco, foi pela comunhão, está aí a tão procurada razão.
Éverson foi “apenas” um instrumento particular da fé de cada um. Alguns levantando os braços aos céus, outros se calando, gritando, ou até mesmo dormindo antes do jogo por um dia como meu amigo Felipe, que à base de morfina, ao lado do pai Wagner Lúcio, não entregou os pontos hora nenhuma. Mesmo na pouca energia física que tinha, levou a Éverson o seu tudo, o seu atleticanismo.
Tudo que parecia uma função inversa foi ajustado. A órbita da perfeição passou longe de Belo Horizonte no confronto Atlético x Boca, mas o sabor dos morangos precisam ser apreciados. Alguns ainda queriam dizer de tática ou preocupação pelo futebol jogado e de como seria ou será o amanhã. Pô, amigão, hoje não, já dizia há algum tempo, Cleber Machado em algum lugar.
Digo-lhes: amanhã (hoje) os olhos sorrirão com barbas excêntricas, de estilo peculiar de quem dias atrás teve a hombridade de falar – “Eu errei, a culpa foi minha”. Hoje, Éverson, o dia é seu. Belo Horizonte sorri com barbas volumosas de quem vê o morango ser saboreado.
O plantio na hombridade colheu a classificação contra o Boca. Morango suculento!
Sim, sabemos dos ursos no caminho, mas isto ficará para outro dia.
Hoje é dia de saborear os morangos, de viver o Galo Doido de cada vida. O porão da razão é menos importante que o portão da paixão.
Viva o Galo Doido da sua vida!