Casa nova! Três vezes Campeão Brasileiro! História e realidade! Passado x futuro!
Por Max Pereira @Pretono46871088@ MaxGuaramax2012
Dizem que o Atlético não sabe contar a sua história. E não estão mentindo. Dizem também que um homem sem memória não apenas não sabe quem ele é, mas não vai a lugar algum, i.e., não consegue desenhar o seu próprio futuro. E mais uma vez falam a verdade.
Aquele clube fundado há 115 anos no já longínquo 25 de março de 1908, mesmo que aqueles garotos que se reuniram no velho coreto do Parque Municipal não o imaginassem, nasceu gigante, campeão e sabendo e querendo mostrar ao mundo que Belo Horizonte era a sua casa. No início, o velho casarão de Dona Alice Neves na rua Goiás foi a sua primeira sede, ainda que informal, mas fundamental porque foi ali que os primeiros alicerces do Athetico Mineiro Futebol Clube foram fincados.
O “H” era apenas uma questão de grafia da época. Sempre Atlético, sempre Mineiro, sempre clube e sempre alvinegro. E foi também na mesma rua Goiás que os meninos do coreto capinaram e limparam um terreno vago e fincaram as primeiras traves, usando postes velhos de madeira doados pela empresa responsável pela iluminação de BH no início do século 20.
E foi naquele campo que o time comandado fora e dentro de campo por Aníbal Machado, presidente e artilheiro daquele Athetico, autor do primeiro gol da história atleticana e um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, mandou seus primeiros jogos, usando uniformes costurados por Dona Alice Neves em seu atelier de costura, situado no mesmo casarão da rua Goiás onde ela também mantinha uma das pensões mais tradicionais da capital mineira daquela época.
Engana-se, pois, quem imagina que o velho Estádio Antônio Carlos foi a primeira casa do Atlético. Não foi sequer a segunda. E enganava-se também quem não acreditava que o Galo mais querido e mais famoso do mundo era o primeiro campeão brasileiro de fato e de direito.
Na primeira metade do século passado, a extinta Federação Brasileira de Futebol, então entidade máxima do esporte bretão no país, promovia tão somente campeonatos nacionais entre seleções estaduais.
Em 1937, quatro depois da implantação do profissionalismo no futebol brasileiro, a FBF organizou e patrocinou o primeiro campeonato oficial entre clubes brasileiros em nível nacional e, para tanto, convidou os campeões dos principais estados da Federação e do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, representado pelo seu então campeão, o poderoso Fluminense, considerado por muitos o melhor time brasileiro daquela época.
O Estado do Rio de Janeiro, cuja capital na época era a cidade de Niterói, teve o seu representante. Além, destes e de outros campeões estaduais, o time da Marinha Brasileira, um dos principais esquadrões do esporte naqueles tempos, também participou da competição.
A homologação formal do título de 1937 era, pois, dispensável, vez que a conquista atleticana já deveria ter sido normal, natural e tacitamente reconhecida por tratar-se de um campeonato organizado e chancelado pela entidade que comandava o futebol brasileiro naquela época e é antecessora da CBF, que é quem comanda o esporte no Brasil atualmente.
Assim, o Galo Mineiro que já era o primeiro campeão de Belo Horizonte, o primeiro campeão do Estado de Minas Gerais e dono da primeira torcida organizada feminina do Brasil, por obra e graça de Dona Alice Neves, uma mulher à frente do seu tempo, tornou-se também o primeiro campeão brasileiro.
O título de 1937, conquistado por Kafunga, Florindo e Quim, Zezé Procópio, Lola e Bala, Paulista, Alfredo, Guará, o Perigo Louro, Nicola e Resende, além de outros craques como Elair e Bazoni e do técnico Floriano Peixoto, foi apenas um dos pioneiros próprios desse Galo maluco e gigantesco.
O convite para que o Atlético excursionasse por países europeus em 1950 naquela campanha que deu ao clube o título honorífico de Campeão do Gelo, também guarda um fato histórico: o Atlético foi o primeiro clube latino-americano a pisar e a jogar em gramados do velho continente. E fiel à sua tradição de ser o primeiro, o Galo, em 1971, também foi o primeiro vencedor de um campeonato brasileiro dos tempos modernos.
Dizem que quem quer casar, quer casa. Dizem, também, que qualquer clube que quer ser uma potência no futebol tem que ter a sua própria casa. E casa, o primeiro campeão brasileiro e hoje tri-campeão nacional, sempre teve. Do velho campinho da rua Goiás, passando pelo campo da antiga avenida Paraopeba e pelo emblemático Estádio Antônio Carlos, até chegar à tecnológica Arena MRV, o Galo fez também do Horto e do Mineirão a sua casa.
A antiga avenida Paraopeba tem hoje outro nome: Av. Augusto de Lima. E, antes de inaugurar o Estádio Antonio Carlos o Atlético mandou seus jogos em um campo que se situava na quadra onde hoje se localiza o Minas Centro.
Por pouco o sonho de uma Arena multiuso, acoplada a um complexo que refletiria o gigantismo natural desse Clube Atlético Mineiro, não se realizou ainda nos idos da década de 40, quando o então presidente do clube Gregoriano Canedo contratou um dos mais famosos arquitetos brasileiros daqueles anos, aquele que havia projetado o Estádio Municipal do Pacaembú em São Paulo. Infelizmente o projeto não saiu do papel, graças às pendengas políticas internas e externas que sempre sacudiram a vida do Glorioso.
Na verdade, porém, a casa do Atlético é e sempre foi mais que a cidade do mais Belo Horizonte. A casa do Atlético, o poleiro do Galo, é e sempre foi o coração de cada um de seus torcedores. Duvida? Pergunte aos nossos rivais. E eu explico:
Foi em outro campo que não era de sua propriedade, mas que a massa sempre tomava de assalto que o Trio Maldito Said, Jairo e Mário de Castro desfilou o seu talento e massacrou o nosso maior rival. Falo da maior goleada sobre o time do Barro Preto, o mítico 9 x 2. E sabem onde aconteceu esta goleada histórica? No antigo campo do América, curiosamente localizado também na antiga avenida Paraopeba na quadra onde hoje fica o tradicional Mercado Central de Belo Horizonte. Ou seja, exatamente em frente ao seu próprio campo naqueles tempos.
Mas ver o tri-campeão brasileiro fazer o seu primeiro jogo oficial na Arena MRV e, particularmente, vencer com dois gols de Paulinho foi muito bom. História e realidade se misturaram no imaginário e nos corações atleticanos. O passado, mais vivo do que nunca, pede para ser recontado e faz com que o clube se inspire para efetivamente desenhar uma nova era e construir o futuro que todo atleticano sonha.
Quiseram os deuses do futebol que o primeiro adversário fosse um time que em comum com o Atlético tem duas coisas emblemáticas: as cores e a figura de um Rei. E, o futebol sempre nos reserva “coincidências” míticas e até divinas. Como esquecer que o Rei santista e do futebol era filho de Dondinho, um dos artilheiros da história atleticana?
Sob as bençãos, de Reinaldo, o Rei atleticano, o Atlético deu os seus primeiros passos na sua nova casa. Que seja o início de uma nova era. Que a história e o futuro do Glorioso sejam construídos a partir de agora em bases sólidas, ao contrário do gramado da Arena MRV, que se desmanchou em tufos, talvez rendendo sua homenagem ao velho campinho da rua Goiás onde tudo começou.