Coluna Preto no Branco: Sinta-se em casa. A casa é sua…
Por Max Pereira @MaxGuaramax2012
Essas frases ditas por qualquer anfitrião em qualquer outra situação, momento ou lugar, soariam politicamente corretas e mais do que aceitáveis.
Ditas, porém , por um treinador atleticano para o comandante do seu maior rival regional minutos antes de um clássico particularmente significativo para a massa atleticana , tendo em vista a atuação pífia do time alvinegro e a frustração gerada no primeiro jogo entre eles na nova casa do Galo, soaram estranhas, inadequadas e até mesmo agressivas para a grande torcida alvinegra..
Melhor, soaram como uma bofetada na cara de cada torcedor, como escrevi no artigo “O CLÁSSICO DA VERGONHA. UMA BOFETADA NA CARA”, publicado neste último domingo, dia 4.2, aqui no Fala Galo.
Como não podia ser diferente, a nova derrota para o time azul na Arena MRV, demarcada por mais uma atuação deplorável, gerou muita indignação no seio da Massa e provocou uma série de comentários que, apesar de carregados de emoção, muita raiva e bastante decepção, não deixam de ser interessantes e até construtivos.
Uma das críticas mais recorrentes é relativa à postura da equipe atleticana em campo. “Time pipoqueiro”, “Time sem raça, sem garra, sem alma”, “Time de moleques, de frouxos”, foram as expressões mais ouvidas e lidas desde que o jogo se encerrou.
Mas, tendo como pano de fundo a rivalidade histórica entre os dois clubes e o significado do clássico para cada Galista, o comentário, a meu ver mais construtivo em relação à postura do time atleticano, claramente inadequada e passiva, foi o seguinte: “os jogadores atleticanos desconhecem a dimensão e a importância do clássico para a Massa. Não conhecem a história do clube e tratam o jogo contra o rival como uma partida qualquer”. Tem lógica, tem muito a ver, mas… .
Particularmente, entendo que a adoção de uma postura inadequada além de ser um problema recorrente da equipe alvinegra nos últimos dois anos, não é a única causa das péssimas atuações do Atlético e, também, não deriva exclusiva e tão somente da deficiência de caráter dos jogadores alardeada por muitos torcedores.
Definitivamente o elenco atleticano não é formado por maus profissionais, venais, ou coisas do tipo. Se o time por vezes deixa o adversário, entre eles o rival azul, sentir-se em casa, relaxa e aceita a derrota sem lutar, é porque está absolutamente despreparado emocional e mentalmente para os confrontos. Causa e efeito.
Nada acontece por acaso. Nem para e nem para o mal. Sempre existe uma razão. Claro, o acaso existe, mas, ainda assim, para que o acaso se materialize é preciso que um conjunto de variáveis se conjugue. Pesam as escolhas, por mais aleatórias que sejam, o momento, a oportunidade, a coincidência e, por trás dessas há sempre outras varáveis.
Ao ver os jogadores atleticanos, apesar de sua superioridade técnica e experiência, serem facilmente envolvidos pelas armadilhas comportamentais e táticas do rival e, completamente batidos do ponto de vista moral, lembrei-me de outros tempos em que o Galo Forte e Vingador, de crista alta e espora afiada, entrava em campo e, jogando junto com a Massa, derrotava o vento e cantava mais alto.
Lembrei-me das histórias que meu pai, tios e avô contavam sobre Mário de Castro, Guará, o Perigo Louro, Kafunga, Murilo e Ramos, de Zé do Monte entrando em campo carregando um Galo de briga, símbolo da raça alvinegra. Lembrei-me, ainda, de jogadores que vi em campo como Ubaldo, o artilheiro dos gols espíritas, dos zagueiros mais viscerais da história atleticana, Willian e Procópio, de Cincunegui, o Deus da Raça, de Oldair Barchi, de Vanderlei Paiva, o Carregador de Piano, de Dario, o Peito de Aço, de Toninho Catimba, de Nilson, o Calcanhar de Vidro, do uruguaio Olivera, do capitão e volante Gallo, de Toninho Cerezo, o Monstro da Bola, e do zagueirão Grapette.
De Dátolo, de Lucas Pratto e de Luan, o Menino Maluquinho. De Cláudio Mineiro, Caçapa, Marcos Rocha, Josué, Cleisson, Nacho Fernández e Roberto Mauro. Do Pitbull Leandro Donizete e de Pierre, das Torres gêmeas Léo Silva e Rever, de Gilberto Costa, de Klebis, de Bueno, um dos três “B”, e de Jorge Valença. De Bernard, que agora está de volta.
Foi impossível não me lembrar do lendário Zé das Camisas que contava a história do Atlético e. ensinava para os garotos da base o significado e a dimensão da rivalidade com o time azul. Lembrei-me da emblemática camisa azul que o velho e saudoso mestre pendurava em um determinado local e a apontava para seus jovens discípulos como símbolo do adversário que era preciso vencer sempre.
E lembrei mais. De Procópio, já treinador, no banco atleticano em um emblemático jogo contra o Flamengo no Mineirão, e de Dorival Knipell, o Yustrich, o aguerrido treinador das vitórias emblemáticas do Atlético com a camisa Canarinha e contra selecionados poderosos, inclusive, contra a própria Seleção Brasileira, campeã do mundo em 1970, quando o Galo vermelho vestiu o manto da FMF.
Curiosamente, pareceu que Felipão, que já esteve do outro lado várias vezes, também desconhece o que significa este clássico para o Atlético e sua torcida. Mas, será que os demais profissionais, envolvidos direta ou indiretamente com o futebol atleticano, também desconhecem tudo isso? E como o alto comando vê esta questão?
Porém, a bem da verdade e da justiça é preciso lembrar uma vez mais que o jogo ruim do Atlético tem muitas raízes. Assim, além do claro despreparo emocional e mental para o clássico, os desajustes táticos e a crônica inadaptação de alguns jogadores do elenco às ideias de jogo do treinador ficaram nitidamente explícitos. Até a velha e saudosa Zulmira, aquela atleticana que não entendia nada de futebol, mas enxergava coisas que poucos conseguiam ver, se ainda estivesse entre nós, teria percebido tais problemas.
E, por se tratar de um jogo em início de temporada, soma-se a isso o mau condicionamento físico de vários atletas. Ah! Mas é início de temporada para o adversário também. Sim, mas o nível de motivação elevado, a menor responsabilidade, as substituições feitas no tempo certo e o posicionamento time, adredemente preparado para explorar as deficiências do Atlético, reduziram o desgaste dos jogadores azuis que terminaram o jogo muito mais inteiros.
As contusões musculares de Zaracho e de Lemos espanam qualquer dúvida a este respeito. Mal distribuídos em campo, lentos, desarticulados e se sentindo impotentes, os atleticanos se desgastaram bastante e acabaram sendo presas fáceis. O “sem sangue nos olhos”, a “frouxidão”, a “falta de raça” são decorrentes desse conjunto de fatores que se conjugaram a desfavor do Atlético.
E, claro, cada jogador sente mais ou menos, entrega mais ou menos, reage de uma forma ou de outra, de acordo com as suas características físico-atléticas pessoais, do momento de suas vidas e de suas capacidades de assimilação de conteúdos táticos que variam de atleta para atleta.
Que os jogadores estão devendo e muito e devem ser cobrados não há dúvida nenhuma. Se existir alguma maçã podre no cesto atleticano, que ela seja retirada. Mas, a cobrança deve ser estendida a muito mais gente. Esgotar a cobrança e a bronca apenas xingando os atletas e fazendo estas estúpidas caças às bruxas, em nada ajuda ao Atlético.
O jogo começa a se ganhar fora de campo. O Atlético não pode continuar permitindo e se perdendo em crises idiotas, fakenews, esquemas mil, descuidos ridículos, falhas de blindagem de seus ativos e novelas midiáticas, desconstrutivas e estúpidas como esse sai não sai de Rodrigo Caetano. Ê preciso mais profissionalismo e mais compromisso com a história do clube.
Dirigentes, treinador, comissão técnica, funcionários, todos devem ser cobrados na proporção exata de suas responsabilidade e poder de decisão. Há muito que se fazer e mudar dentro do Atlético. O resgate da chama nos olhos, da faca nos dentes e do futebol envolvente, fluido e impositivo, tática, física, técnica e mentalmente, só ocorrerá se o clube passar por uma revolução radical de métodos, de gestão e enfoque.
E, se alguém não se sentir em casa com essa transformação, que deixe o clube. Quem tem que se sentir em casa somos nós atleticanos, nas arquibancadas e dentro de campo.
* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal Fala Galo