Muito mimimi, muita história e futebol bom ainda não é uma realidade
Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012
Dentro de campo o Atlético deu o seu primeiro passo rumo ao título de 2024. E o time? Evoluiu? Brilhou? Foi mais do mesmo? Ou a equipe alvinegra finalmente conseguiu encher os olhos de seu torcedor? Como a vitória sobre o América deve ser recebida pelo mundo atleticano? E o que ela pode trazer de bom ou de ruim para o Galo?
Por outro lado, fora dos gramados, o Galo tem dado uma série de passos importantes, decisivos, radicais, ora firmes e claros, ora nebulosos ou até mesmo inexplicáveis, em busca de um futuro ainda incerto, preocupante e indubitavelmente inédito em sua história.
Mas isso é prosa pra lá de meio metro diria o velho e saudoso Jeremias, um atleticano de quatro costados que vivia lá pelos rincões do cerrado mineiro. O Vovô Jerê, como os netos carinhosamente o chamavam, dizia que o Atlético era coisa de atleticano e, como tal, cabia ao Galista e, unicamente a ele, cuidar dos caminhos e do futuro do Glorioso.
Por ora, vou tratar neste ensaio apenas e tão somente das repercussões de tudo isso e do quanto estas podem ser benéficas ou nocivas para o futuro do Galo, dependendo da forma como clube e torcida, cada qual na sua esfera de poder e influência, as administrarem e de como o clube agirá em seus interiores e nos bastidores do futebol porque os inimigos de sempre permanecem vigilantes e, como sempre, serão e continuarão sendo inclementes e cruéis.
Nas redes sociais a Massa de certa forma se dividiu após a vitória atleticana no clássico há muito tempo de uma só multidão. Para muitos, o Atlético venceu, mas, mais uma vez, não convenceu. Para outros tantos o time evoluiu e a vitória foi merecida e, para alguns poucos, ainda poderia até ter matado a classificação para final do certame.
Em relação aos bastidores do Glorioso, especificamente no que tange à SAF, ao crônico endividamento do Atlético e suas consequências e ao desempenho do clube no Mercado da Bola, os mesmos comentários de sempre.
Um número cada vez mais crescente de torcedores continua tecendo críticas duras ao comando atleticano, cobrando transparência e uma atuação no Mercado da Bola condizente, no entender destes, com a promessa de um clube que, com o advento da SAF, se transformaria em uma das maiores potências do futebol mundial.
Dentre os críticos da SAF parece crescer o número de atleticanos que se mostra mais e mais desencantado com essa nova realidade alvinegra, i.e., com este novo modelo societário da agremiação no qual figura de um dono do clube claramente conspurca para estes o seu sentimento de pertencimento em relação a este Galo maluco, apaixonante e, muitas vezes, decepcionante.
É natural, portanto, que neste cenário ainda de muitas incertezas, de mais perguntas do que respostas e de sentimentos confusos e conflitantes, as opiniões, as percepções e os prognósticos sobre as possibilidades do Atlético em termos de títulos nesta temporada sejam diferentes, controversos e, muitas vezes, passionais.
E, se lembrarmos que cada um de nós, como diziam os antigos comentaristas, de técnico e de jogador, em relação a qualquer outro se acha mais entendedor, fica fácil compreender porque e como o futebol é visto de formas tão distintas quanto curiosas, onde o bizarro e o surreal acabam por vezes sendo até vulgarizados.
Se alguém não gosta deste ou daquele time ou deste ou daquele jogador a tendência natural é que as avaliações feitas em relação a quem não se simpatiza não sejam positivas e, sim, venham sempre carregadas de preconceitos, de negativismos e de ilações injustas.
Da mesma forma, sobre quem se gosta se costuma emitir opiniões e juízos de valor sempre positivos, ainda que, aos olhares de muitos, pareça estar sendo claramente tendencioso(a) e longe da verdade.
É assim na vida, na política, no trabalho, em família, nos grupos sociais e, claro, no futebol. No caso da massa alvinegra, então, a relação clube-torcida e do torcedor com os atletas varia de 8 a 80.
São Victor foi canonizado no Horto, onde um Bruxo exibiu sua magia e enfeitiçou cada um dos milhões de atleticanos espalhados pelo planeta e outro tanto de aficcionados pelo futebol que, graças a ele, descobriram um Galo fascinante, forte e vingador.
Reinaldo e Dario se tornaram reis de uma nação, enquanto Mário de Castro, Guará, o Perigo Louro e Ubaldo, o grande Miquica, o artilheiro dos gols espíritas, encantaram e alimentaram a atleticanidade de várias gerações de galistas apaixonados.
E um incrível super-herói, nascido humilde na Paraíba, um dia vestiu preto e branco. O Hulk atleticano ao mesmo tempo em que vem esmagando as redes adversárias, vem enchendo o coração preto e branco de alegria, felicidade, orgulho e esperança.
Por outro lado, muitos e muitos outros jogadores comeram o pão que o diabo amassou. Alvos das famosas e insidiosas caças às bruxas vários jogadores de idades, origens, posições, nacionalidades e nomes diversos tiveram um corte decisivo em suas carreiras.
Paixão e intolerância seriam irmãs siamesas? No caso das almas atleticanas com certeza há uma grande correlação entre estes sentimentos.
Essa mesma torcida que nas arquibancadas e nas antigas gerais derrotou o vento mais de uma vez e tornou o impossível possível, fora delas por vezes se mostra irreconhecível.
Esse mesmo torcedor que fez a massa atleticana se tornar a torcida mais temida, respeitada e invejada do país, se mostra agora, aqui e ali, desanimado e, pior, desencantado, sem identificação com esse novo Galo que tem dono.
Reconhecendo os riscos que o instituto SAF traz desde a sua concepção como modelo societário para os clubes brasileiros, os quais venho apontando em vários de meus ensaios neste e em outros espaços, entendo sinceramente que a figura de um dono do clube do nosso coração, embora indigesta, ainda não é o fim do mundo.
Tudo depende, a meu ver, da forma como nós torcedores alimentaremos daqui pra frente a relação clube-torcida. Desistir do Galo, jamais. Se tem alguém capaz de manter vivo e poderoso este sentimento de pertencimento é o atleticano.
O Atlético nunca foi só o clube, o time, as sedes de lazer, o prédio da sede administrativa, o velho Estádio Antônio Carlos ou a Cidade do Galo. O Atlético sonhado pela Dona Alice Neves não existiria se essa torcida louca, bipolar, apaixonada e ímpar não existisse.
É jogando junto com o time, amarrando as chuteiras dos jogadores com as nossas veias, sejam eles quem forem, que faremos o time atleticano evoluir, não ser mais do mesmo e, finalmente, encher os nossos olhos.
É participando da vida do clube e exercendo o nosso direito de ser agente da história do Atlético é que faremos esta vitória sobre o América trazer apenas coisas boas para o Galo e, em consequência, muitas e muitas outras vitórias e títulos virão.
É fazendo críticas e cobranças construtivas que levaremos o clube a corrigir os óbvios desequilíbrios do elenco, a blindar e proteger os seus ativos, a não se desfazer de jogadores de forma precipitada e sem planejamento, particularmente pela primeira proposta, a construir um projeto consistente de formação e de transição da base e de clubes de camisa menos pesada para a equipe principal.
É mantendo e retroalimentando nossa atleticanidade que faremos o nosso Galo mais e mais forte, apto a enfrentar os riscos inerentes à SAF, a defender e a preservar a identidade e a história desse Atlético dono de nossos corações.
É agindo e pensando assim que não nos deixaremos levar por nenhum mi mi mi, por nenhuma história mal contada. Afinal, quem tem que fazer, construir e contar a história do Atlético é e só pode ser o atleticano.
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*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.