Aqui não é hot-dog, aqui é tropeiro
Por Betinho Marques
Novamente mais um clássico mineiro está por acontecer, e mais uma vez, o “achar” que nada muda, mata a cada dia um dos maiores jogos do futebol brasileiro.
Além de um país com 14 milhões de desempregados, o Brasil vive de uma busca incessante em se entender nos seus propósitos culturais, sobretudo, em compreender a democracia e a forma de usá-la. A tecnologia tão desejada chegou, mas os aspectos provincianos conseguem proezas como vender ingressos na fila sem justificativa plausível para a torcida do Atlético. Cito abaixo, alguns motivos para um pai/mãe, desejar seu filho atleticano “guardado” em casa no dia do jogo:
- Iluminação inadequada nos arredores do Mineirinho e seus barrancos inóspitos na saída;
- Não possibilidade de guardar o veículo em local seguro;
- Falta de comunicação clara sobre as rotas de chegada menos propensas aos confrontos para o visitante;
- Formas muito mais confortáveis e seguras de assistir ao jogo pela TV, com amigos, “queimando uma carne” e com o carro na garagem;
- Vários ambulantes que vendem cervejas em garrafas de vidro, o que gera um ambiente propício ao confronto por um simples “esbarrão” nos arredores dos estádios;
- Preços incompatíveis com o tratamento dispensado e com a economia do país.
Ingresso médio R$ 60,00 + estacionamento R$ 30,00 + lanche/bebida R$ 30,00 + combustível R$ 30,00 + possibilidade de ser acertado pelo “spray de pimenta” + chance de “garrafada na cabeça” X Pay-per-view a menos de R$ 10,00 por jogo + lanche/bebida R$ 30,00 – “menos” chance de “garrafada na cabeça” – “menos” possibilidade de ser acertado pelo “spray de pimenta”
Subtotal ficando em casa (economia)_______________________________________(R$ 90,00)
Total com sossego da família _____________________________________________(R$ 90,00 – menos chance de spray de pimenta – menos possibilidade de garrafada – chance de roubarem o veículo)
Muita gente ao ler o texto, assim como o “doido” que vos escreve irá ao jogo, mas é por uma insanidade que começou ainda nos anos 80. Desvincular é um processo lento, e para alguns, sem cura. Contudo, hoje as possibilidades mudaram, e como pai, não recomendaria que o meu filho fosse ao jogo, mesmo tendo levado ele pela primeira vez com dois meses em 2011. Inclusive, espero que minha mãe não leia o texto para que ela durma tranquilamente.
Brasileiro não é o mais apaixonado por futebol
A Copa América acabou há dois dias e a Folha de São Paulo em sua matéria (www1.folha.uol.com.br/esporte/2019/07/estadios-vazios-colocam-em-xeque-brasil-como-pais-do-futebol.shtml) demonstrou que a competição teve taxa de ocupação média 57,8% dos estádios. Além disso, houve partidas que a média do custo do ingresso na primeira fase ultrapassou R$ 480,00 por entrada. Conseguem entender que não tem nada de romântico nisto?! É um negócio. Tudo bem! Nada contra os negócios, a questão é: quem banca este negócio? Quanto tempo continuará bancando com este formato? Quem pagou R$ 500,00 reais é o mesmo torcedor que vai aos jogos durante todo o ano e aceita ser mal tratado? Quem tem a melhor laranja do mundo para exportação, chupa essa laranja ou chupa outra coisa?!
Balelas Nacionais e o Tablet
Das grandes inverdades folclóricas vendidas é a de que Fla x Flu é um clássico de rivalidades. Não é. A grande rivalidade para quem conhece o Rio de janeiro é Vasco x Flamengo. Porém, nem de longe representam a divisão bipolar que existe entre Grêmio x Inter e o Galo x Cruzeiro.
Pois é, Minas tem um dos dois maiores clássicos do país e não sabe vendê-lo. Já fizeram a final da Copa do Brasil e por “pirraça” dos seus dirigentes, com estádio sem lotação máxima. O modo sovina de lidar com seu maior espetáculo, sem o diálogo profissional e de mercado preparado, gera um produto arcaico e que a cada ano perde sua relevância quase centenária.
Ainda este ano, a CNN virá para o Brasil por intermédio de empresários, inclusive de Minas Gerais, sendo possível até um “braço” da emissora na capital mineira. É fundamental um olhar vanguardista para tirar a subida da carroça na Avenida Afonso Pena e evoluir. É preciso enxergar que o clássico agoniza. Não adiantará gritar pelas “tradições” se não houver respeito e atrações. Nós jogamos futebol na rua, os nossos filhos na grama sintética ou no “Tablet”.
Carnaval de Belo Horizonte
Otimista como nunca e apaixonado desde “sempre”, exemplifico o que se falava da mais famosa festa pagã da capital mineira: “o Carnaval de Belo Horizonte é uma porcaria”. Pois é, não é mais. O olhar mudou. Quem ia longe, nem sempre vai mais. A cidade respira a alegria e a jovialidade, e por incrível que pareça, já tem muita gente a voar no carnaval para vir a BH. O impulso popular, na raça, feita pelos blocos, além do “não atrapalhar”, e até do incentivo à promoção da alegria permitido pela prefeitura tiraram o ranço sisudo da cidade.
O olhar para o carnaval quer demonstrar que é possível fazer o clássico brilhar novamente e proporcionalmente à sua grandeza. Basta um pouco de entendimento da cidade, dos seus movimentos culturais, basta um “sorriso profissional”. Entretanto, diante da “pasteurização” e do “sorriso fabricado” o autêntico ficou de lado. Muitos podem confundir a gestão do evento “Superclássico Uai”, como um simples “match day” e mudar só o idioma, ou transformar uma pipoca vendida em uma caixinha cara com em popcorn. O sentimento de abrigar quem curte o Galo x Cruzeiro deve-se organizar através da cultura regional e do valor ao espetáculo mineiro. É muito mais real, é muito mais “uai”, é um “trem” muito mais bem feito que hot-dog em caixa! Mineiro é hospitaleiro. Custa a fazer, mas faz com excelência. Resgatem o povo! Resgatem o Atlético x Cruzeiro! Faz o trem bem feito, sô!
Aqui não é hot-dog, aqui é tropeiro!